A Razão

("O Grito", Edvard Munch)









Hoje acordei com a sensação estranha que me faltava algo, algo que me completava que me mantinha a andar, que me fazia sorrir, tagarelar, galhofar, inventar, maravilhar, senti que, como um punhado de areia, os grãos se perdiam entre os dedos, deixando muito pouco no espaço que a palma contempla. Fiquei triste, rebolei na cama na esperança de afastar esse pensamento, mas de nada me serviu, a convicção que o desfecho rápido se aproximava fez que me expulsasse da sorna.

Vim para a minha fortaleza, respirei fundo e esperei que tudo fosse efémero, como sempre resultou, ignoro o aperto que sinto, as palavras que de dentro de mim gritam, faço ouvidos moucos ao chinfrim que para aqui vai, mantenho a eterna convicção que a razão é mais forte que tudo, que ela define todos os caminhos. Volto agora a pensar nisso, não sei porque, fim da tarde, fim de semana, mais uma semana destituída de significado, onde as banalidades foram mais importantes que a realidade. Começo a escrever para o blog uma ou outra estupidez, algo sem sentido, que só serve para passar o tempo, quero fazer deste blog um espaço diferente dentro do espírito anterior e nada me sai. Ainda bem que estas folhas se podem apagar, não são reais, caso contrário estava cercado por um monte de papel não reciclado. A folha branca mostra-se à minha frente rindo-se de mim, o cursor teima em piscar testando os limites da minha paciência, sorrio, nada me demove, analiso isto e aquilo, mas nada que me atraia suficientemente para escrever mais do que um paragrafo. Por fim ouço aquelas vozes irritantes que me seguiram todo o dia, analiso, decomponho, misturo, melhor dizendo, baralho parto e dou, quero conclusões e nada me sai… Temo que dentro em breve comece a falar por analogias complexas e me veja como dono de um peixe dourado que dentro de um aquário se ri de mim. Volto à razão, mas ela já não quer nada comigo, desapareceu deixando um bilhete pendurado: “fui de fim-de-semana, estou farta de te aturar.”, senti que tinha razão, até eu tenho dificuldades em me aguentar, que fará ela sempre tão disponível, e sem pudor de me dizer o que pensa, levando depois com os meus retrógrados preconceitos que só aplico a mim. Espero que volte, faz-me falta a sua companhia, que volte para lutar contra a minha teimosia domquixotiniana.

Bom fim-de-semana razão, bom fim-de-semana caros amigos, se a encontrarem por aí mandem cumprimentos meus, se ela perguntar por mim, digam-lhe que estou no sítio do costume.

1 enxotaram a pardalada (sim, clicar para comentar):

Anónimo disse...

Alô Pedra....
Parece-me muito bem....dá-lhe com a alma... Na facilites.....(janinho)